Será o amor para sempre impossível? Não.
Provavelmente só é muito difícil, como tudo o que vale a pena. Porque o mais fácil é apaixonarmos-nos.
Complicado é mantermos-nos apaixonados, interessados. Não é obviamente em câmara ardente que se segura um amor para sempre, mas duvido que seja com renovação de roupagem que nos fazemos vestir de felicidade. Precisamos de saber dar aos outros como se fosse a nós mesmo e interessarmos-nos por quem amamos como se fosse connosco. Porque só assim nos mantemos interessantes, precisos, parceiros, nossos. Porque essa é a característica patente nas relações que duram, nas relações familiares, quase sempre imortais.
Embora fundamental, este altruísmo para com quem amamos não chega. Precisamos de saber renovar, de aprender e dar de novo, de começar tudo como se fosse hoje a última vez. Como se fosse a primeira vez, num rastilho com cheiro a pecado até o aroma ser doce outra vez. Porque um amor sem altos e baixos é como um deserto, adormecemos na monotonia de uma paisagem sem cor.
nothing to say that matters
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
terça-feira, 1 de abril de 2014
Ele e as Armas
Gostava de sonhar. E isso explica tudo. Explica os seus olhos meio lunáticos capturando a vida nos cantos mais improváveis, explica os lábios curvados num sorriso, um sorriso róseo, pregado no seu rosto moreno, radiante. Mas isso não o fazia bonito. O sorriso por vezes assustava, estava sempre lá mesmo no contexto mais sombrio. Na cabeça dele tudo era um sonho, ainda era noite, e ele vivia numa montanha longínqua, numa casinha pintada dum amarelo desbotado, com duas janelas simetricamente quadradas emoldurando a porta de entrada. Margaridas salpicavam a relva verde, um céu azul que se acizentava ao longe, anunciava a chuva. O Sol, uma mancha de tinta num amarelo vivo, deixado ali por um pincel de criança. Andava por ruas apinhadas, passava por calçadas sujas e húmidas de chuva, mas estava preso no seu próprio mundo imaginário, o mundo inexistente que, pensava ele, existia em algum lugar, talvez depois do horizonte. De hora em hora olhava pela janela, aspirava o ar poluído da cidade, imaginando-se numa ilha distante logo de manhãzinha, o ar frio e floral invadindo seus pulmões. (…) Era um louco, alucinado, atendia pela alcunha de estranho. E dalgum modo inacreditável, ainda assim era feliz. Era. Cansado. Tomara uma colher de sentimentos e agora eles martelavam nos seus ouvidos, gritando em voz alta. Os seus pés estavam cansados demais de seguir a carregar o peso da saudade, da mágoa nunca cicatrizada, dos toques que ainda ardiam na sua pele, noite e dia. Os seus pés, estavam cansados de perseguir os sonhos, devorados pelos outros. Sentia-se sonolento, mas não conseguia dormir. Sentado ali, sentiu. E não soube ao certo o quê. Um sentimento peculiar perdido dentro dele, um pássaro ansioso que fugiu da gaiola cedo demais. A nostalgia despontava novamente ali, ansiava por escapar e se fazer ouvir. O rapaz lutou bravamente, usou as armas do costume, até não poder mais. Respirou fundo o ar gelado, esperando que os sentimentos congelassem de uma vez por todas. Soltou sofregamente o ar poluído e saturado que havia dentro de si, poluído de emoções, encharcado da bebida forte que o embebedava e impregnava os poros da sua alma. Bebida para ele, venenosa. Um veneno doce, transformado num vicio, numa droga. Murmurou as mesmas palavras ilusórias de sempre, melodia suave para os seus ouvidos, para a sua cabeça confusa. Nenhuma das armas triunfou. E ambos esmoreceram sobre a cama, fartos, ele e as armas. A nostalgia tanto teimou, tanto cantou aqueles medos e receios, que acabou por deixar as lágrimas a dançarem pelo seu rosto. Tanto bailaram que caíram no chão frio, gelado. Escaparam em arquejos e soluços dos lábios trêmulos. (…) Agora tudo era silêncio. Só a respiração do pobre miúdo ecoava em cada canto da casa, um inspirar e um expirar calmo, tranquilo demais para toda a turbulência dentro dele, o desespero mudo. E o aroma das lembranças circulou no ar, o cheiro das recordações que perdera. Ele não sabia o que era aquilo, que fragrância seria aquela. Só sentiu. Um toque. Um abraço. Um beijo. O medo da partida, e o alivio da chegada. A despedida mais dura, o adeus. O calor de um olhar cansado, de uma imensidão nuns olhos negros como um túnel escuro. Um túnel sem saída, onde todos os sonhos ficam perdidos. Onde ficaram aqueles que foram, e não voltaram. O miúdo fecha os olhos, e as bailarinas voltam ao seu rosto encharcando as armas, fartas de jogar.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
Oswaldo Montenegro
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
Oswaldo Montenegro
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Sabes,
chegou a minha hora bebé. Vou embora. Tenho as malas feitas, o orgulho
erguido em riste no meu punho cerrado, e a minha cabeça levantada. Os
meus olhos húmidos e cansados, consumidos pelas insónias que me causaste
e pelo sofrimento que escorreu pelo meu rosto, fixam-se no caminho que
tenho pela frente, caminho que desta vez, vou percorrer sem ti. O
caminho de volta, deste sítio onde só tu vivias comigo. Deixo-te a
saudade, as tentativas falhadas, e o meu amor por ti.
Ambos desistimos, ambos nos perdemos. Dei o meu melhor, nunca fui suficiente. Agora cansei-me, e é tarde demais. Talvez um dia tu reconheças o quanto sofri por ti, o quanto chorei para te ter de volta. O quanto mudei na esperança de que voltasses. Um dia, talvez, tu me olhes nos olhos, e percebas que me perdeste, que perdeste a pessoa que mais te amou, em toda a tua vida.
Ambos desistimos, ambos nos perdemos. Dei o meu melhor, nunca fui suficiente. Agora cansei-me, e é tarde demais. Talvez um dia tu reconheças o quanto sofri por ti, o quanto chorei para te ter de volta. O quanto mudei na esperança de que voltasses. Um dia, talvez, tu me olhes nos olhos, e percebas que me perdeste, que perdeste a pessoa que mais te amou, em toda a tua vida.
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