sábado, 7 de janeiro de 2012
Poderíamos casar, teríamos um apartamento, tomaríamos o pequeno almoço ao meio-dia, discordaríamos quanto a cor dos sofás, penduraríamos as nossas fotos nas paredes, não faríamos a cama diariamente, o frigorífico seria repleto de congelados e ice tea, o armário, de porcarias e atum. Adiaríamos o despertador múltiplas vezes, sentaríamos-nos na sala de pijama e pantufas, tu adormecerias sobre o meu colo enquanto te acariciava o rosto. Dormiríamos com a luz de presença ligada, terias rosas na mesa de cabeceira, a cozinha iria cheirar a torradas queimadas e manteiga e teríamos um gato. Encomendaríamos pizza, fumaríamos um cigarro ao pôr do sol, correríamos à beira-mar de mãos dadas, sairíamos para jantar num dia de chuva e chegaríamos encharcados. A nossa roupa andaria espalhada pela casa, as velas seriam queimadas pelo tempo, cumpriríamos as nossas promessas, seríamos nós contra o mundo. Iríamos ver as estrelas à varanda, beberíamos um chocolate quente em frente da lareira, assistiríamos a um filme de terror debaixo dos cobertores da nossa cama, tomaríamos banho juntos, ouviríamos a mais triste balada ressoar nos corredores vazios, dançaríamos pela madrugada fora, beijaríamos-nos no meio do silêncio. Eu riria sem motivo e tu perguntarias porquê, eu não responderia. Saberíamos. E tu, beijarias-me de novo. (...) Decidis-te fugir, deitar tudo a perder, correr sem nada dizer. Decidiste não olhar para trás, cuspir-me na cara, perturbar a minha razão, violar o meu ser. Com o teu orgulho em pose, fotografaste a nossa miséria, e eu estou tão cansado de escrever para ti, tão cansado de sonhar contigo, tão cansado de ti. Mas vai, vai ver as fotografias, vai buscar as memórias, vai lamentar as recordações, vai, vai chorar, vai, magoa-te idiota.
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